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28 maio 2013

Casa numero 9



- Fale a verdade, você não tem nada a perder meu jovem. Disse o policial Alessandro.


- Eu já falei! Era um palhaço! Sei que parece  loucura demais, mas eu vi o momento em que aquela pobre garotinha foi arrastada para dentro daquela casa!

Alessandro pensou, tentou acabar o quebra-cabeça do crime que havia abalado a cidade de Ponta Grossa... Mas não conseguiu.



- Você tem certeza disso rapaz? Perguntou o policial.

- Sim. Respondeu Renan.

Fora Renan que chamara a policia, ele estava passando de carro pela Rua Paulo Nunes quando ouviu o grito da menina. Resolveu parar e ver o que acontecia, desceu do carro e encontrou o motivo daqueles gritos.

O que Renan viu foi  realmente assustador, em frente a uma velha casa, uma pequena garota era arrastada pelos cabelos, seu corpo se debatia no chão e era levado para dentro da estranha e antiga residencia. Quem lhe puxava era um sinistro homem que usava calças azuis, um macacão verde, com uma maquiagem horrível e borrada na cara. De longe Renan não entendeu o que o homem era e foi só quando tomou coragem e partiu para ajudar a garota que sua visão melhorou. Sua mente deu um nó quando percebeu que o maníaco usava as roupas de um palhaço.

O rapaz viu que o estranho palhaço sorria com os seus dentes amarelados. Na face a tinta do rosto escorria como sangue. O Palhaço não fazia nada além de arrastar a menina, que enquanto isso gritava muito por ajuda.

Renan correu, mas antes que chegasse ao portão da velha casa, o palhaço já havia levado a menina para dentro e trancado a casa. O rapaz socou a porta, queria salvar aquela garota, mas não havia como entrar por ali. Desesperado pegou o celular e ligou para a policia, nesse tempo tentou entrar por uma das janelas, mas não conseguiu, todas estavam trancadas e a casa do lado de dentro estava totalmente escura.


Sem saber mais o que fazer, Renan gritou, achou que os vizinhos poderiam ouvir, mas parecia que não morava ninguém a não ser o macabro palhaço naquela velha rua.

Demorou dez minutos para a polícia chegar e conseguir arrombar a porta, nesse tempo os gritos da menina pararam. Quando as autoridades invadiram a residência, Renan foi junto.

A casa do lado de dentro estava totalmente destruída, não havia quase nada, parecia que o lugar tinha sido abandonado a muito tempo.

Olharam no primeiro cômodo e não acharam nada, nem no segundo e no terceiro. Foi só quando entraram em uma espécie de porão que encontraram o que procuravam.

No meio de madeiras podres e muita sujeira, estava o corpo da menina. Torto, pois os braços e pernas haviam sido quebrados, assim como uma parte da cabeça que parecia estar comida.

A cena era horrível, um dos policias precisou se afastar para não vomitar. Renan não acreditava naquilo tudo. Se tivesse sido um pouco mais rápido teria salvado a garota.

Então a polícia procurou pelo assassino, mas no restante do porão não havia mais ninguém. As autoridades fizeram buscas na região e depois de três dias procurando e fazendo perguntas aos vizinhos próximos, acabaram desistindo. O crime parecia não ter solução e a identidade da garota também não foi descoberta, ninguém foi identificar o corpo, mesmo depois de a mídia ter espalhado a noticia. No fim das contas a garota foi enterrada como indigente.

Depois de comparecer dois dias seguidos na delegacia de policia, Renan foi liberado, mas tudo que passara acabara traumatizando o rapaz. O jovem queria esquecer de tudo, mas não conseguia, nos dias seguintes não dormiu, pois sempre que fechava os olhos a imagem do medonho palhaço ganhava espaço em sua imaginação.

Ele via o monstro devorando uma criança viva e para completar o pesadelo, o rapaz percebia que o garoto devorado era ele mesmo quando criança.

Uma semana depois do acontecimento, depois de ter tentado ajudar a policia e de ser atormentado todas as noites por pesadelos com o terrível assassino, Renan acordou decidido a entender o misterioso crime. A primeira coisa que fez foi visitar a rua novamente, as respostas só podiam estar lá.

Pegou seu carro e foi até o local onde tudo havia acontecido. Dessa vez Renan prestou mais atenção e notou que aquela rua era a menos movimentada do bairro. Conseguiu contar quatro casas apenas e então a rua acabava. O caminho seguia só para os lados.

A última casa da rua era a casa número nove. Fora lá que a pequena garota havia sido morta. O homem desceu de seu carro e bateu palmas em uma das casas que havia ao lado da n° 9, insistiu, mas ninguém atendeu. Então passou para o outro lado da rua e tentou outra casa, novamente nada. Parecia que o lugar era deserto.

Sem desistir Renan tentou comunicação em outra casa, a que ficava mais distante da casa do palhaço. Bateu palmas e enfim alguém apareceu.

Quem saiu na porta da residência que estava com o N°6 rabiscado próximo a uma janela, foi uma senhora que aparentava ter mais de 60 anos.

- O que gostaria meu filho?

- Bom, eu queria fazer umas perguntas. Falou seriamente Renan.

- Desculpe-me, mas eu não posso comprar nada. Falou a velha mulher com um tom educado.

- Não se trata de comprar, senhora, é sobre o assassinato que ocorreu aqui na rua semana passada. Explicou o homem.

- Você é da policia? Eu já disse tudo que sei e vocês não acreditaram, por que querem que eu repita de novo? A senhora estava sorrindo.

Renan não compreendeu, a mulher morava ali perto, como a policia não acreditaria em suas palavras. Mas pensando bem, Renan havia visto tudo e comunicado a policia e mesmo assim nenhuma das autoridades acreditou que quem matara a menina usava uma roupa de palhaço.

O rapaz acabou raciocinando demais e foi surpreendido pela voz da velha.

- Vamos rapaz eu não tenho o dia todo, você é da policia? Disse a senhora quebrando os devaneios de Renan.

- Sim, eu sou. Mentiu Renan e continuou. – Gostaríamos de ouvir seu relato apenas mais uma vez senhora, seria possível?

A mulher afirmou com a cabeça e caminhou até o portão, depois convidou Renan para entrar.

- Qual é o seu nome filho? Perguntou a mulher.

- Renan, oficial Renan. Falou o jovem sem jeito.

- Tudo bem… Renan, eu sou Ana Clara, mas me chame apenas de Ana, venha comigo, vamos conversar na sala.

Os dois entraram, Renan viu que a mulher morava em uma casa muito simples e que aparentemente sua única companhia era um gato preto que se encontrava dormindo logo na porta de entrada.

Ana mostrou uma cadeira para Renan e o rapaz sentou-se, foi então que a mulher lhe contou toda a história que sabia.

- Você acredita em lendas garoto? Maldições ou espíritos? Questionou a mulher.

Renan sentiu-se desconfortável, aquela pergunta lhe assustara um pouco.

- Acho que sim. Respondeu o falso policial.

- Que bom, pois essa morte que acabou abalando a cidade está ligada a uma maldição, um causo que no passado foi verdade e depois passou a ser uma lenda… Hoje ela já foi esquecida.

- Continue senhora, por favor. Pediu Renan. E assim, Ana contou tudo o que sabia.

Ana perguntou a Renan se ela havia notado como a Rua Paulo Nunes era vazia naquela região e explicou que o motivo disso era por que as pessoas não tinham muita coragem de morar por ali. Diziam que aquela parte da rua continha uma energia negativa.

A mulher explicou que ainda morava ali, pois nascera naquele local e que nem sempre a rua fora deserta e assustadora como era agora. Contou que viu nascer a lenda que acabou com a vida da garota e que o início de tudo isso havia acontecido quando ela ainda era uma moça.

- Foi em 1965. Disse Ana Clara. – Um dia, a rua ganhou um novo morador, um homem que dizia ter vindo de Curitiba, da capital. Esse homem veio morar na casa N° 9 e sua profissão era vender algodão-doce.

Renan escutava tudo atentamente, procurando fazer ligações com o crime que havia presenciado.

- Esse homem se chamava Bruno, se não me falha a memória. Ele vendia seus doces vestido de palhaço. Mas Bruno só morou durante seis meses aqui, pois depois de um tempo, nós moradores descobrimos algo terrível. O homem era um pedófilo e oferecia doces de graça para algumas crianças em troca de caricias. Isso durou até o dia em que um dos meninos contou a história para o pai, então fizemos uma armadilha e conseguimos pegar o louco no flagra.

- Compreendo. Disse Renan, ele estava hipnotizado pela narrativa de Ana Clara.

- Mas naquela época meu filho, de nada adiantava nós chamarmos a policia como é feito nos dias de hoje. Isso se misturou com a raiva que todos estavam do novo morador e o resultado foi justiça com as próprias mãos! Alguns homens se juntaram e espancaram Bruno até a morte e para completar enterraram o corpo dele nos fundos daquele terreno da casa nove. O tempo passou e as coisas foram esquecidas, mas depois de alguns anos, quando ninguém mais se lembrava do acontecimento, coisas estranhas começaram a acontecer.

- Tipo o que? Perguntou Renan.

- Mortes senhor policial, mortes. O tempo correu, e então todo ano, no dia em que nós moradores havíamos acabado com a vida do maldito palhaço, uma criança sumia.

Ana continuou:

- As pessoas ficaram assustadas, algumas diziam que naquela data, dia 19 de outubro, viam o palhaço andando pelas ruas, vendendo seus doces. Com o tempo os moradores começaram a deixar as crianças dentro de casa, sempre que chegava o dia do aniversario de morte de Bruno. Mais anos se passaram, e as pessoas começaram a transformar a realidade em lenda, assim como ignorar o desaparecimento de uma criança por ano, afinal são tantas que se perdem todos os dias? Não é verdade meu filho?
Desde tudo isso mais de quarenta anos se passaram, as pessoas agora tem medo da casa nove e medo da rua. Só eu sobrei, eu e o palhaço, que aparece uma vez por ano apenas para se vingar, para se alimentar e depois voltar para o mundo dos mortos. Acredita nisso policial? Concluiu Ana, perguntando.

Renan não sabia o que responder, apenas agradeceu a mulher pelo relato e disse que aquilo havia sido de extrema importância. Ana não sabia que Renan não era um policial, mas sabia que o relato dela não mudaria nada, não havia o que ser feito.

- Quem era a garota que morreu dessa vez? Perguntou Renan antes de sair da casa da velha.

- Não tenho a mínima ideia, as vezes acho que ele fica um dia inteiro aqui e que vai buscar suas vítimas em outros lugares, hoje em dia é fácil ver aqui na cidade palhaços vendendo algodão-doce. Respondeu Ana rindo.

- Obrigado. Finalizou Renan e se afastou da casa, indo em direção ao seu carro. O rapaz ainda chegou a escutar a velha dizendo.

- Fique com Deus garoto.

Ele entrou no carro e pensou em tudo que ouvira. No fim das contas acabara ficando ainda mais com medo. Ligou o carro e passou na frente da casa N° 9 mais uma vez. Antes que fizesse a curva olhou para a velha casa e por segundos viu na janela, dezenas de crianças lhe encarando. Não tinham olhos e sim buracos negros que as deixavam com uma expressão totalmente sem vida.

Entre as crianças Renan viu a menina que quase salvara, ela parecia lhe encarar. A garotinha comia um grande algodão-doce amarelo e atrás dela, reinando sob todos os pequenos, estava o palhaço. Feliz, sorridente.

Tudo foi muito rápido, Renan não acreditou no que viu, esfregou os olhos e quando olhou de novo, a casa estava escura, aparentemente vazia. Acelerou seu Celta e partiu, não voltou mais naquela rua, mas também nunca mais se esqueceu dela.

Quando a noite chegava o homem sempre se lembrava das crianças sem vida lhe encarando e do maldito palhaço da casa N° 9.

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